quarta-feira, 30 de março de 2011

Frase do Mês




"POR FIM VOLTASTE, AMIGA BRUMA!"

Umberto Eco in  A MISTERIOSA CHAMA DA RAINHA LOANA

Photo by Maysa de Albuquerque

Da Série "Glimpses of Nirvana": I'M NOT SAYING (1965)



Toda vez que minha vida se complica demais e/ou se enche de tarefas tediosas, sou acometida por um desejo irresistível de ouvir canções da primeira metade dos anos 1960. Não importa se você era nascido ou não. Estou falando de um tempo em que a juventude estava começando a nascer como conceito, quer dizer, um estado de espírito prêt-à-porter e embalado para presente - por um preço módico, é claro. Talvez seja esse frescor de uma época mitificada que me fascina, mas ultimamente acho que é porque são canções muito  boas. E qualidade não envelhece. Nico, vocês sabem, é um ícone dos sixties, embora não exatamente do começo da década. Ela gravou muitas músicas lindas, canções que já eram belas e que ela tornaria memoráveis. Os vídeos, porém, são quase todos muito ruins. Depois de muito pesquisar, resolvi postar este aqui porque, apesar de tosco - e, em parte, por isso mesmo -  ele me comove. Aqui vemos uma Nico ainda saudável, exalando certa alegria de viver para contrabalançar a melancolia latente. Ainda faltam alguns anos para ela se tornar aquele zumbi afetado, entupido de drogas pesadas, a espalhar sua fascinação mórbida por umas quatro ou cinco gerações. Por enquanto, é só uma moça bonita em busca da fama... mas a roda da fortuna já começa a girar.


terça-feira, 22 de março de 2011

Da Série "HQ Fields Forever": CARL BARKS








Meu primeiro herói literário foi completamente desconhecido para mim durante muitos anos. Eu o admirei profundamente, sem saber quem era, sem sequer me lembrar de que ele existia - por intermédio de sua obra, que era Patópolis. Ocorre que aprendi a ler numa revista em quadrinhos, o que vale dizer: aprendi a ler lendo balões e legendas de HQ. E a primeira história completa que li se chamava As Mil Faces de Maga Patalójika. Foi uma grande emoção, um estremecimento cheio de presságios. Desse dia em diante, eu amaria Carl Barks com toda a minha imensa ignorância infantil, com toda a força misteriosa dos começos. O traço de Barks, prontamente reconhecível, era um prenúncio de momentos inesquecíveis ao lado dos patos, cujas aventuras os arrastavam pelos cinco continentes e pelos sete mares - e me levavam junto. Nada me deu tanta vontade de correr mundo, de me encontrar com a vastidão dos seus idiomas, culturas, costumes. Mas o melhor de tudo é que naqueles preciosos instantes em que uma historinha de Barks estava sendo fruída, eu não pensava. Só havia tempo para me maravilhar. Ao longo dos anos, tenho lido e relido essas revistas sempre que posso. É sempre arrebatador. Reler Barks talvez seja uma tentativa de atualizar o encantamento sem perder a coerência do sentido. Porque naquele tempo, fascinada pelas aventuras dos patos, começou para mim um hábito que se estenderia aos livros e que ainda cultivo: sentir o cheiro da revistinha nova, quando era aberta e folheada pela primeira vez. E a emoção de encontrar num sebo aquela edição que não fora possível adquirir por ocasião do lançamento - o cheiro era ruim, mas havia uma ternura especial em botar a revistinha no sol, pendurada no varal; depois, na sombra, para tomar ar, para que só então pudesse ser lida sem me causar uma tremenda crise alérgica, desencadeando a fúria zelosa da minha mãe... Carl Barks, sem ser considerado parte da literatura, abriu para mim as portas de um vasto mundo que, anos depois, eu vim a saber que se chamava, exatamente, literatura.

P.S.: A muito custo, consegui selecionar minhas dez histórias favoritas, o hit-parade do coração - mas tudo, absolutamente tudo que Carl Barks produziu com os patos deve ser lido... 

As Mil Faces de Maga Patalójika
Os Micropatos do Espaço
O Grande Prêmio do Globo de Cristal
A Rainha das Sereias
O Diamante da Maldição
A Mina da Rainha de Sabá
O Caso das Perucas Catastróficas
A Caixinha Preta
O Dia em Que Patópolis Parou
O Tesouro de Marco Polo

Todas estão disponíveis no Brasil em formato americano e capa cartonada, na coleção O Melhor da Disney - As obras Completas de Carl Barks da Editora Abril.