Não sei que rumor é esse. E sei muito bem.
É como se um caderno antigo se deixasse folhear pelo vento.
É o ruflar das asas do desejo indo ao encontro da memória,
essa distração que me mantém viva. "Olha", disseste,
"está acontecendo outra vez", disseste ainda, num tom
de invocação e foi o quanto bastou. Nossos poderes
se espreguiçam sob a relva, os plátanos parecem
feitos de âmbar e mel silvestre. Como tudo se renova,
bafejado pelos séculos! De perto, a gente pode vê-las
perdendo as folhas, o tronco se descama - tua voz
recriando a realidade, tua boca exalando as sílabas
farfalhantes, a tarde inédita, de repente. Uma lufada
de vento frio demais para uma dama - ou duas. Longe,
tão longe a idade das palavras vãs - mas ninguém te preveniu
sobre a embriaguez do orvalho? Ficamos importantes demais,
era fatal que empalidecêssemos, nós, os últimos reflexos
do rubi no fundo da taça, a cena em sépia que ameaça
eternizar-se. Talvez tenhas dito "amor" alguma vez.
"Rumor" foi a palavra que escolhemos, a voz entrecortada,
os lábios entreabertos, as palavras se partindo em
meio às folhas, perfumes que não soubemos nomear.
No lugar do teu nome, o silêncio voltando a ser
apenas um halo de luz roubada do nosso esplendor.
E sopraste:"É só mais uma estação que se inicia".
Eu não duvido, meu amor, meu doce delírio,
faz de conta que os anos não passaram. Os anos desfolharam
e as páginas dos caderno são mais belas assim, amareladas.
Words By Lívia Soares
Photo by Maysa de Albuquerque
É como se um caderno antigo se deixasse folhear pelo vento.
É o ruflar das asas do desejo indo ao encontro da memória,
essa distração que me mantém viva. "Olha", disseste,
"está acontecendo outra vez", disseste ainda, num tom
de invocação e foi o quanto bastou. Nossos poderes
se espreguiçam sob a relva, os plátanos parecem
feitos de âmbar e mel silvestre. Como tudo se renova,
bafejado pelos séculos! De perto, a gente pode vê-las
perdendo as folhas, o tronco se descama - tua voz
recriando a realidade, tua boca exalando as sílabas
farfalhantes, a tarde inédita, de repente. Uma lufada
de vento frio demais para uma dama - ou duas. Longe,
tão longe a idade das palavras vãs - mas ninguém te preveniu
sobre a embriaguez do orvalho? Ficamos importantes demais,
era fatal que empalidecêssemos, nós, os últimos reflexos
do rubi no fundo da taça, a cena em sépia que ameaça
eternizar-se. Talvez tenhas dito "amor" alguma vez.
"Rumor" foi a palavra que escolhemos, a voz entrecortada,
os lábios entreabertos, as palavras se partindo em
meio às folhas, perfumes que não soubemos nomear.
No lugar do teu nome, o silêncio voltando a ser
apenas um halo de luz roubada do nosso esplendor.
E sopraste:"É só mais uma estação que se inicia".
Eu não duvido, meu amor, meu doce delírio,
faz de conta que os anos não passaram. Os anos desfolharam
e as páginas dos caderno são mais belas assim, amareladas.
Words By Lívia Soares
Photo by Maysa de Albuquerque
14 comentários:
Maravilhoso, delicioso, inebriante texto, caríssima Lívia!!! Demorei a pousar por aqui, mas agora, que prazer beber tuas palavras aladas... pintadas... bordadas de tons de amor, esperança, renovação infinda dos tons da ternura!... Grata pelas visitas delicadas ao meu blog. Gostaria de saber se, um dia desses, poderia publicar algo teu lá em Ânkoras & Asas. Beijinhos azuis.
cara lívia
hoje vim para retribuir-te a visita a meu blog - também gostei do teu espaço literário e voltarei - já o coloquei entre meus favoritos!
beijão e obrigada!
líria porto
Muito belo!
Obrigado por nos mostrar.
Bjs
Prezada Lívia,
Belo e sensível texto.
Alguns dias atrás, quando olhava seu Blog, fiquei observando a pintura da jovem adormecida (penso) dispersando flores pelo ar. Resolvi escrever um poema e enviá-lo.
DESPEDIDA
Existe uma impossibilidade
nessas flores que brotam
na boca da menina adormecida.
Será a fuga
do sonho?
A despedida
da alma?
Ou uma mecha
do universo?
Mas a menina apenas dorme
com a ilusão brotando
em um beijo.
Penso em melhorá-lo, mas não resistí em te enviar assim mesmo.
Jorge Elias
Muito bom este poema Lívia. Um beijo.
Os seus textos são sempre brilhantes!
:)
Alguém que caminha decididamente em direção à Luz, "with a little help from my friends".
Que bello es eso.como ves ya aprovecho cualquier momento para pasar a saludarte.
un abrazo
Querida Lívia
Belíssimo.
Como é bom quando você escreve aqui.
:)
Olá Lívia
Quanta delicadeza nesse "rumor" sem nome, nessa estação sem data, nesse orvalho que entorpece...
adoro seus escritos, gosto dessa sensibilidade que tem na alma,que deposita nas palavras,
para mim o verdadeiro encantamento nessa arte de escrever e descrever os sentimentos
abraço grande
Un placer despues de mucho tiempo, demasiado, de no pasear por tu blog y respirar talento y sensibilidad.
Un abrazo
Victor
oi, lívia - sinta-te à vontade! aceita cafezinho, pão-de-queijo?? casa de mineiro é assim, hospitaleira...
besos
Lindíssimo texto, Lívia. O final é arrebatador.
Primeira vez aqui. Voltarei muitas vezes. Com certeza.
Muito bom, Lívia.
Beijos
Lívia, está tudo bem?
:))
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