Hoje é um dia melhor que ontem. Não que haja frutos - ainda.
Suas raízes fincadas no ontem - quão fundo? É uma bênção o não saber.
Hoje se alimenta desse ontem. Até onde? Ela não sabe. Sua fortuna é
o não saber. E uma certa delicadeza ao deslizar entre retalhos
de pensamentos. Um deles reza: "moldada pela dor,
é depois de esquecida que se escreve a história." Ela hesita,
os retalhos de uma vida que foi sua - foi isso mesmo que passou com a brisa?
É assim que uma vida se torna esquecimento? Hoje, hoje,
ela repete para ver se cola, se os retalhos aderem à folha em branco
que nasceu agora. Hoje eu devo arder, ela diz, sem saber por que,
eu devo arder em palimpsestos e códices, in-fólios e missais,
para qual olhar? Quem sabe é o odor persistente das folhas,
quem sabe é o crepitar das páginas amassadas, os rasgos na memória -
hoje eu devo arder para que o ontem caiba na folha em branco, desenhando
essas pétalas de outro tempo, inventadas noutro tempo, para nascer agora.
Mas então as lembranças estancam devagarinho, vencidas
pelo róseo veludo de umas corolas bordadas na tarde azul.
Então, ela diz, era esta a dor que me moldava?
Words by Livia Soares
Image: Painting by Marco Mazzoni
6 comentários:
um dia depois do outro. não tem como não ser :)
tá lindo o espaço aqui!
Grata pela visita.
Um abraço.
A dor da necessidade de escrever, só apaziguada quando o poema vem...
Muito belo. Um beijo.
Querida Graça,
grata pela visita e pelo
comentário sempre estimulante.
Um abraço.
fui levada para um mundo íntimo pleno de singeleza e sutileza.. de uma suavidade muito linda. amei, lívia.
um abraço!
"Mas então as lembranças estancam devagarinho, vencidas
pelo róseo veludo de umas corolas bordadas na tarde azul."
Querida Luciana,
grata pela visita e pela
leitura sempre atenta.
Um abraço.
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