terça-feira, 9 de outubro de 2007

Da série "A Cinemateca de Babel": CARMILLA, A VAMPIRA DE KARNSTEIN



Devo esclarecer desde já que os filmes aqui comentados obedecerão a um critério de escolha muito peculiar, isto é, obedecerão à disposição labiríntica da minha memória afetiva. Serão filmes de qualquer gênero, diretor, nacionalidade ou época, bastando que tenham me tocado profundamente e que eu me sinta compelida a vê-los e revê-los pela vida afora. Começo com este que é um dos mais queridos cult movies de todos os tempos. O roteiro se baseia na obra de Joseph Sheridan Le Fanu, "Carmilla", novela gótica muito amada pelos leitores e quase sempre presente em antologias e coleções do gênero. Há indícios de que "Carmilla", a novela, tenha influenciado Bram Stoker e sua mais famosa criação, "Drácula". O livro de Le Fanu tem seus próprios méritos e merece um capítulo à parte; eu, pessoalmente, penso que no filme foi aproveitada, basicamente, a atmosfera requintada e doentia da novela. Mas o que me fascina mesmo é a sua (do filme) explosiva mistura de horror kitsch, sensualidade mórbida e humor perverso que provoca risos nervosos, singelos prazeres que descobrimos em algum lugar da puberdade, talvez enquanto fazíamos fila para ver Monga, a mulher que virava macaco... Para agravar a situação, o papel principal está a cargo de ninguém menos que a fabulosa Ingrid Pitt, atriz polonesa que se tornaria um ícone do cinema de horror ao longo dos anos 1970 (aliás, não devemos esquecer que "Carmilla" é um produto dessa época, a década mais furiosamente hedonista de um século de excessos. Talvez haja aí uma pista para a decifração do fascínio permanente deste filme... ); Peter Cushing faz o general Spielsdorf, um cavalheiro em cuja mansão se inicia a história. Sua filha Laura (Pippa Steele) será a primeira de uma série de moças seduzidas, assediadas e (de muito bom grado) sangradas até a morte por uma bela aristocrata de voz rouca, corpo escultural e uma insaciável sede de sangue. Há muitas seqüências memoráveis; para mim, uma das melhores é quando Carmilla, acuada, começa a seduzir e matar todos aqueles que tentam separá-la de sua amante-vítima favorita, Emma Morton (Madeline Smith) e é finalmente capturada enquanto tenta arrastar Emma, exangue e apaixonada, para sua tumba no castelo dos Karnstein. Claro que, no final, Carmilla será desmascarada e morta (pela segunda vez) à maneira clássica dos contos folclóricos sobre vampiros, isto é, com uma estaca no coração e depois, decapitada. Certos prazeres custam caro. Mas até lá, quantos sustos, arrepios e gargalhadas para os fãs... A propósito, este filme é o início da "Trilogia Karnstein". Quem gostar e quiser mais do mesmo deve prosseguir e ver "Luxúria de Vampiros" (Lust for a Vampire) de Jimmy Sangster e "As Filhas de Drácula" (Twins of Evil) de John Hough. Mas o meu favorito é este.
(Carmilla, A Vampira de Karnstein/The Vampire Lovers. Inglaterra, 1970. Produzido por Hammer Films-American International Pictures. Duração: 91 minutos. Direção de Roy Ward Baker. Roteiro de Tudor Gates baseado na novela "Carmilla", de Joseph Sheridan Le Fanu. Música de Harry Robinson. Com Ingrid Pitt, Peter Cushing, Pippa Steele, Madeline Smith e outros. Disponível no Brasil em DVD pela revista Dark Side DVD, ano 1, nº 2).

4 comentários:

devaneiosaovento disse...

Cara Lívia,
agradeço sua presença, e bom que goste de Cruz e Sousa (sim é com "s") adoro seus poemas.
-
Mas olha só que surpresa, falando de cinema! e coisa boa em Drácula sou simplismente fascinada por esse maravilhoso Conde sanguinário, e tenho o Dvd "A filha de drácula" com Otto Kruger e Glória Holden, e tb "A filha de drácula" com Nigel Green e Ingrid Pitt,esse meu favorito.
Adorooooo filmes de terror, tenho vários. Vc viu O Zumbi, com Boris Karloff? ótimo e vários tb de Frankenstein, gosto tb da "trilogia do terror" de John Carpenter ow coisa boa!!!
sempre os revejo, acompanhada com uma boa pipoca, rs.
abraços, bela surpresa,fiquei encantada em saber tb da sua aptidão para com esses estilos.

livia soares disse...

Tens razão, querida.
Grata pela correção.
Um abraço.

Carlos Henrique Leiros disse...

Adorei saber que aqui no A Dama Oculta, você dá início à Cinemateca de Babel com este clássico vampiresco estrelado por Ingrid Pitt [igualmente soberba em A Condessa Vampiro, adaptação da saga de Erzsebeth Bathory]. Pois bem, possuo a trilogia de Karnstein em casa, tendo como preferido o filme Luxúria de Vampiros. Mas todos são maravilhosos, não?
Mal posso esperar pelos outros clássicos que aqui desfilarão ;]
Abraços, minha cara.
Carlos

Juan B. Morán disse...

Muchas gracias, Livia por tu comentario en mi blog. Y gracias por tu simpatía.

Un abrazo