terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Frase do Mês




"OS LIMITES DA MINHA LINGUAGEM DENOTAM OS LIMITES DO MEU MUNDO"

Ludwig Wittgenstein,
Tractatus Logico-Philosophicus

Image by Michael Speranza

domingo, 11 de dezembro de 2011

Da Série "Glimpses of Heaven" KEEP YOUR CHANGE (2011)


Paul Ruark é uma descoberta que não posso deixar de registrar. Foi amor à primeira vista, especialmente quando ele canta: "I'll take my Bible/You keep your change". Assino embaixo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Notas do Terraço



2. Era pra ser uma notícia sobre o que tenho lido. Mas não vai ser agora. O que tenho lido requer uma organização, uma sequência. O  que tenho a dizer agora é que estou tentando acompanhar o silêncio solene desta hora.O bairro adormecido, os carros quase todos nas garagens, os fiapos da música ao longe. E risos e conversas.E por fim, nem isso.Arrumando a biblioteca, viro presa fácil de antigos cadernos.Quando releio estes escritos, o que mais ressalta é o desespero de uma alma se debatendo: sabendo que Deus está presente, mas tentando negar essa presença, por não se sentir à altura da responsabilidade que Ele lhe reservou em Seus planos.Esse desespero me empurrava para a vaidade, expressa numa necessidade compulsiva de dizer coisas bonitas. Fugir da superficialidade dos ditados, dos chistes, das frases feitas, sentindo que eles têm sua sabedoria. E que, em certos momentos, só a banalidade nos salva. Salva? Mas não, não seria assim. Eis como foi: um dia, Deus teve pena de mim e me libertou da tirania da beleza. Funciona mais ou menos assim: se você tem algo a dizer, saiba que o leitor não se interessa pela sua vida.Não importa como você vive ou viveu. Importa como você leu - e como chegou ao que leu.Se você tem algo a dizer, diga. O estilo virá quase instintivamente - no começo. Mas logo você verá que o instinto não basta - e até pode atrapalhar muito. Você terá que se concentrar na palavra. A palavra que fundou este mundo e com a qual se pleiteia um lugar no Reino dos Céus. Ou, no mínimo, fica-se sabendo que existe um.

Words by Livia Soares
Photo by José Boldt

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Da Série "Glimpses of Nirvana": BOOKSHOP CASANOVA (2011)



The Clientele. Indicação do meu amigo Carlos Henrique Leiros. Senti uma afinidade instantânea com esta banda. Há algo em mim que se recusa a desistir de acompanhar bandas de rock. Principalmente as de inspiração folk. Sem contar que adorei a cara deles. Entre o fingimento "normal" e o tédio estudado.

domingo, 17 de julho de 2011

Dos "Cadernos de Poesia": Buquê de Ontem


Hoje é um dia melhor que ontem. Não que haja frutos - ainda.
Suas raízes fincadas no ontem - quão fundo? É uma bênção o não saber.
Hoje se alimenta desse ontem. Até onde? Ela não sabe. Sua fortuna é
o não saber. E uma certa delicadeza ao deslizar entre retalhos 
de pensamentos. Um deles reza: "moldada pela dor,
é depois de esquecida que se escreve a história." Ela hesita, 
os retalhos de uma vida que foi sua - foi isso mesmo que passou com a brisa? 
É assim que uma vida se torna esquecimento? Hoje, hoje, 
ela repete para ver se cola, se os retalhos aderem à folha em branco 
que nasceu agora. Hoje eu devo arder, ela diz, sem saber por que, 
eu devo arder em palimpsestos e códices, in-fólios e missais,
para qual olhar? Quem sabe é o odor persistente das folhas,
quem sabe é o crepitar das páginas amassadas, os rasgos na memória - 
hoje eu devo arder para que o ontem caiba na folha em branco, desenhando
essas pétalas de outro tempo, inventadas noutro tempo, para nascer agora.
Mas então as lembranças estancam devagarinho, vencidas
pelo róseo veludo de umas corolas bordadas na tarde azul.
Então, ela diz, era esta a dor que me moldava?


Words by Livia Soares
Image: Painting by Marco Mazzoni

sábado, 16 de julho de 2011

Frase do Mês


NON SINE SOLE IRIS
NO RAINBOW WITHOUT THE SUN
NÃO HÁ ARCO-ÍRIS SEM O SOL
Anônimo

Imagem: THE RAINBOW PORTRAIT OF ELIZABETH I (circa 1600)
Pintor Anônimo

Da Série "Glimpses of Nirvana": SAMSON (2006)




OK, talvez a canção, o vídeo, tudo - não seja tão lindo nem tão bom quanto eu sinto. Sentir é problemático em termos de arte e essa canção me toca demasiadamente; não sei se já tenho uma sensibilidade suficientemente educada para poder deixá-la à vontade. Mas quando vejo esse vídeo, esse piano gotejando em algum lugar do meu peito e esses versos me acalentando, não ligo a mínima se daqui a um ano ou dois eu, olhando em retrospecto, achar a coisa toda um tanto sentimental demais. Poderei então suspirar e dizer "eu era assim". Que bom que pude amar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Notas do Terraço



1.Começo hoje estas notas que se destinam a dar conta das minhas leituras mais recentes.Esta semana acabei de ler "Feia - A História Real de Uma Infância Sem Amor", a controvertida autobiografia da juíza britânica Constance Briscoe. É uma leitura angustiante, por vezes aterradora. É difícil imaginar uma infância mais infeliz ou uma pessoa pior do que a mãe biológica dessa pobre mulher. Constance sofre crueldade, negligência e humilhação em níveis inimagináveis para quem teve uma infância normal. E, o que é pior, ela sofre tudo isso nas mãos daqueles que deveriam protegê-la - sua mãe, seu pai, seu padrasto. Por que vale a pena ler? Porque é um relato escrito na contramão do coitadismo, do vitimismo e do politicamente correto. Porque uma menina que teve tudo para dar errado acaba encontrando forças não só para sobreviver, mas para estudar, formar-se em Direito e se tornar uma mulher bem sucedida.E adivinhem onde ela encontra tudo isso: numa escola católica, Sacred Heart Roman Catholic School, onde ela teve, pela primeira vez na vida, uma "sensação de pertencimento". Aos nove anos, tornando-se católica, Constance aos poucos vai aprendendo a se alimentar desse fugidio raio de esperança em seu inferno cotidiano: saber que é especial para Deus, mesmo tendo uma mãe violenta e um pai ausente. Constance hoje é uma mulher vitoriosa, em que pesem as marcas (físicas e psíquicas) dos horrores que ela sofreu quando criança. Quanto à sua "mãe", Sra. Carmen Briscoe, espero que ela um dia receba o castigo prescrito por Jesus Cristo para os molestadores de crianças: ser jogada ao mar, com uma pedra bem grande amarrada no pescoço.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Citação do Mês



"MAS O TEMPO É UM TECIDO INVISÍVEL EM QUE SE PODE BORDAR TUDO, UMA FLOR,UM PÁSSARO, UMA DAMA, UM CASTELO, UM TÚMULO.TAMBÉM SE PODE BORDAR NADA. NADA EM CIMA DE INVISÍVEL É A MAIS SUTIL OBRA DESTE MUNDO, E ACASO DO OUTRO".

Machado de Assis: Esaú e Jacó

Imagem: fotografia de José Boldt

Da Série "Glimpses of Nirvana": LITTLE LION MAN (2009)



Não sei quanto a vocês, mas eu, de vez em quando, preciso inventar uma paixão por alguma banda. Talvez tentando atualizar o impacto positivo dos Beatles e dos Monkees na minha infância... confesso que ultimamente está ficando cada vez mais difícil. E não creio que seja só pelo fato de eu estar mais exigente. Penso que a brutal vulgaridade da vida contemporânea tem nivelado tudo por baixo demais - até mesmo aquilo que, por definição, nunca foi muito mais do que lixo cultural reciclado: a cultura pop. Sim, amigos, a cultura pop me interessa cada vez menos - e digo isso com uma ponta de tristeza... mas nem tudo está perdido. Há cerca de duas semanas, eu dei um jeito de me apaixonar de novo. O nome da banda é Mumford and Sons. Eu olho para eles e só tenho uma palavra: "arrebatador".

sábado, 23 de abril de 2011

Citação do Mês




"BUT HE WAS PIERCED FOR OU TRANSGRESSIONS,
HE WAS CRUSHED FOR OUR INIQUITIES;
THE PUNISHMENT THAT BROUGHT US PEACE WAS ON HIM,
AND BY HIS WOUNDS WE ARE HEALED"
Isaiah 53:5


"POR NOSSOS PECADOS ELE FOI FERIDO;
POR SUAS FERIDAS NÓS SOMOS CURADOS"
Isaías 53:5


Imagem: A Ressurreição de Piero della Francesca (1460)

Da Série "Glimpses of Heaven": MY IMMORTAL (2007)




Não sou exatamente uma fã da banda Evanescence, mas este vídeo ficou tão bonito que até pode funcionar como uma homenagem a Maria, mãe do Deus que se disfarçou de carpinteiro de Nazaré e mudou radicalmente as nossas vidas. É bem verdade que o grande mérito é das imagens extraídas do filme de Mel Gibson, The Passion of the Christ. Aqui, como vocês podem ver, a atriz romena Maia Morgenstern compõe a mais comovente mater dolorosa da história do cinema. Eu, pelo menos, não me recordo de ter visto nada igual nas telas. E porque hoje é sábado de aleluia, celebro o dia em que Ele ressuscitou, compartilhando com vocês, que são o sal da Terra. Feliz Páscoa.


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dos "Cadernos de Poesia": I Accuse Myself of Daydreaming



 Dedicado a Marcella Rarumi, pela sugestão 
de como "dizer adeus ao que parece eterno"


Que se materializem os beijos
dados em nossos sonhos! Só assim
poderão as máscaras, duas a duas,
trêmulas de horror e de encantamento,
em pleno ato de beijar-se, vislumbrar
um pouco do clarão que as sustém.
Que fulgurações! Mas nessa aurora
não há misericórdia. Só um rumor
de coisas frágeis quando se quebram.
E sendo ainda humanas, as máscaras
não resistirão a compor alguma ode
aos cacos, ao que em outro tempo
faiscara de louçania e graça...mister
em que brilharão, naturalmente - incontáveis
fagulhas estilhaçando a duração do dia.
Sim. Que se materializem os sonhos
beijados por nossas máscaras !


Words by Livia Soares
Image by Mia

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Da Série "Glimpses of Nirvana": SATISFACTION (1994)




Yeah, we can't get no satisfaction. Ever. For this is the realm of Desire: so beautiful,so dangerous...

Dos "Cadernos de Poesia": Meu Começo Inesquecível



É sempre assim.
O amor, quando
invade o palco,
é só memória
de antigo espetáculo.
Mas não deixa
cena sobre cena,
tal a delicadeza
de seus cascos.



Words by Livia Soares
Image by Yoshimasa Tsuchiya

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Da Série "Glimpses of Nirvana": WE WON'T BREAK (2007)



...e o Zoot Woman fez este vídeo onde figuras das telas de Hyeronimus Bosch ganham vida ao som do eletropop. Não é lindo?

quarta-feira, 30 de março de 2011

Frase do Mês




"POR FIM VOLTASTE, AMIGA BRUMA!"

Umberto Eco in  A MISTERIOSA CHAMA DA RAINHA LOANA

Photo by Maysa de Albuquerque

Da Série "Glimpses of Nirvana": I'M NOT SAYING (1965)



Toda vez que minha vida se complica demais e/ou se enche de tarefas tediosas, sou acometida por um desejo irresistível de ouvir canções da primeira metade dos anos 1960. Não importa se você era nascido ou não. Estou falando de um tempo em que a juventude estava começando a nascer como conceito, quer dizer, um estado de espírito prêt-à-porter e embalado para presente - por um preço módico, é claro. Talvez seja esse frescor de uma época mitificada que me fascina, mas ultimamente acho que é porque são canções muito  boas. E qualidade não envelhece. Nico, vocês sabem, é um ícone dos sixties, embora não exatamente do começo da década. Ela gravou muitas músicas lindas, canções que já eram belas e que ela tornaria memoráveis. Os vídeos, porém, são quase todos muito ruins. Depois de muito pesquisar, resolvi postar este aqui porque, apesar de tosco - e, em parte, por isso mesmo -  ele me comove. Aqui vemos uma Nico ainda saudável, exalando certa alegria de viver para contrabalançar a melancolia latente. Ainda faltam alguns anos para ela se tornar aquele zumbi afetado, entupido de drogas pesadas, a espalhar sua fascinação mórbida por umas quatro ou cinco gerações. Por enquanto, é só uma moça bonita em busca da fama... mas a roda da fortuna já começa a girar.


terça-feira, 22 de março de 2011

Da Série "HQ Fields Forever": CARL BARKS








Meu primeiro herói literário foi completamente desconhecido para mim durante muitos anos. Eu o admirei profundamente, sem saber quem era, sem sequer me lembrar de que ele existia - por intermédio de sua obra, que era Patópolis. Ocorre que aprendi a ler numa revista em quadrinhos, o que vale dizer: aprendi a ler lendo balões e legendas de HQ. E a primeira história completa que li se chamava As Mil Faces de Maga Patalójika. Foi uma grande emoção, um estremecimento cheio de presságios. Desse dia em diante, eu amaria Carl Barks com toda a minha imensa ignorância infantil, com toda a força misteriosa dos começos. O traço de Barks, prontamente reconhecível, era um prenúncio de momentos inesquecíveis ao lado dos patos, cujas aventuras os arrastavam pelos cinco continentes e pelos sete mares - e me levavam junto. Nada me deu tanta vontade de correr mundo, de me encontrar com a vastidão dos seus idiomas, culturas, costumes. Mas o melhor de tudo é que naqueles preciosos instantes em que uma historinha de Barks estava sendo fruída, eu não pensava. Só havia tempo para me maravilhar. Ao longo dos anos, tenho lido e relido essas revistas sempre que posso. É sempre arrebatador. Reler Barks talvez seja uma tentativa de atualizar o encantamento sem perder a coerência do sentido. Porque naquele tempo, fascinada pelas aventuras dos patos, começou para mim um hábito que se estenderia aos livros e que ainda cultivo: sentir o cheiro da revistinha nova, quando era aberta e folheada pela primeira vez. E a emoção de encontrar num sebo aquela edição que não fora possível adquirir por ocasião do lançamento - o cheiro era ruim, mas havia uma ternura especial em botar a revistinha no sol, pendurada no varal; depois, na sombra, para tomar ar, para que só então pudesse ser lida sem me causar uma tremenda crise alérgica, desencadeando a fúria zelosa da minha mãe... Carl Barks, sem ser considerado parte da literatura, abriu para mim as portas de um vasto mundo que, anos depois, eu vim a saber que se chamava, exatamente, literatura.

P.S.: A muito custo, consegui selecionar minhas dez histórias favoritas, o hit-parade do coração - mas tudo, absolutamente tudo que Carl Barks produziu com os patos deve ser lido... 

As Mil Faces de Maga Patalójika
Os Micropatos do Espaço
O Grande Prêmio do Globo de Cristal
A Rainha das Sereias
O Diamante da Maldição
A Mina da Rainha de Sabá
O Caso das Perucas Catastróficas
A Caixinha Preta
O Dia em Que Patópolis Parou
O Tesouro de Marco Polo

Todas estão disponíveis no Brasil em formato americano e capa cartonada, na coleção O Melhor da Disney - As obras Completas de Carl Barks da Editora Abril.