O verão condena tudo o que é vivo à existência.
Pode até mesmo levar a nocaute algumas rosas.
Aqui em casa, eu juro, as rosas olham na direção
do mar. É quase possível ouvi-las a suspirar
na tarde morna. Por que não se resignam?
São tão frágeis as margens da alegria...
O verão é o fundador deste país efêmero
onde os pés não conseguem desgrudar do solo,
a tirania do calor reivindica ilhargas e omoplatas,
não bastasse o baixo-ventre em tumulto,
há muito tempo sob o (des)governo seu.
Dissimulada pela brisa, escravidão telúrica:
suaremos copiosamente a cada passo,
mergulharemos em paixões e excessos,
algumas rosas desmaiarão de puro tédio.
Mas as noites, ah, as noites hão-de trazer jóias
sobre veludo azul, a começar pelo céu.
Words by Livia Mara Soares
Image by Angie Wang (somewhat modified)