
Todo poema tem seu esqueleto
que a tua carne não vê, nem poderia.
Assim como os dias vâo fluindo,
inusitadas prendas te alcançam.
O mesmo véu que embaça o olhar
desliza sobre o poema e vai despindo
sem piedade, mas também sem raiva:
o paciente esforço, as horas mudas,
a ocultação dos ossos, a luta contra o Nada.
Tudo se desdobra, enfim, como esperado:
cristaliza-se a espuma dos dias,
das fugas que ficaram por dizer.
Está quase pronto - e faz algum sentido.
Fingidamente perplexo, então, assinas.
Já estás no exílio.
Words by Livia Soares
Image: "Femur", a sculpture by Jodie Carey