segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dos "Cadernos de Poesia": Estação Liberdade


O que eu perdi não foi perdido:


escorregou entre minhas garras,


espalhou-se pelo mundo


e espalhado permanece, à minha volta.


O que eu ganhei foi arrancado


com as unhas ávidas e muitos dentes


e uma vez devorado,


apenas aumentou a minha fome.


Porém aquilo que o desconhecido,


tocado pela graça, me presenteou,


eis o tesouro, o ouro,


o melhor da vida. De repente,


o vinho tocando harpa nas papilas,


o leito dos amantes de Verona,


a noite mais clara que a aurora,


a aurora compartilhada como pão:


tudo isso pode ser aqui, agora.


Depois de tudo, eu tenho quase


tudo. Com os braços vazios,


um coração vazio,


com os pés descalços, a pé,


caminho em direção àquilo


que me pertence. E ando


a pintar, com esmero, os lábios


para alguém que não conheço.
Words by Lívia Soares
Photo by José Boldt

7 comentários:

José Boldt disse...

Olá, Lívia

Antes de mais, dar-lhe os parabens por este Blog que tem os sentimentos á flor da pele e por outro lado dizer muito obrigado pela utilização que fez de uma fotografia minha que ficou mais bonita só porque está junto de um poema lindissimo.

Obrigado
josé boldt

sempre que quiser utilisar as minhas fotos é para mim um prazer e assim vai valendo apena continuar a fotografar.

devaneiosaovento disse...

Cara Lívia

Sabe que muito respeito seus versos, cada vez que aqui venho,admiro a beleza de cada poesia que aqui deixa. Esse me levou a um sentimento especial, perdeu-se na verdade o que nunca teve, acho essa a dor maior.
Aprendi com a vida algo em meio a dor: procuro fazer das mazelas um aprendizado, desses que sangram, as vezes tento me remendar, colar pedaços, juntar meus cacos...e tentar como um espantalho seguir em frente, mesmo com os braços vazios, tem um "orifício" no meu peito ele nunca parou de sangrar...
espero um dia superar.
abraços

Juan B. Morán disse...

Aunque me pierdo en algunas palabras, creo que llego al significado del poema.

Un abrazo

Carlos Henrique Leiros disse...

Há uma idéia...
e eu já pensei bastante a respeito!
A idéia é de que caminhamos sós em busca do que entendemos haver sido prometido.
De onde estamos, não se vê fim ou começo.
O poema me faz voltar a esta idéia, porém, bafejado por uma espécie de esperança genuína. O que, convenhamos, é reconfortante!
Abraços do
Carlos

Anônimo disse...

Amabilidade com amabilidade se paga, e A Dama Oculta esta "lincado" em meu blog.
já agora porque não criar um
e-mail neste blog.

aquele abraço
josé boldt

Unknown disse...

Parabéns pela poesia. O meu já acabou há algum tempo. Foi um tempo. Um tempo bonito e que deixou algumas raízes, o que me admirou.

Tania disse...

“o vinho tocando harpa nas papilas,
o leito dos amantes de Verona,
a noite mais clara que a aurora,
a aurora compartilhada como pão”

Por coisas assim, penso que vale muito a pena pintar os lábios e caminhar ao desconhecido...
É um belo poema, Lívia.

Um abraço :)