
Abraçando a brisa com suas lágrimas,
límpida, junto ao mar, ela espera.
E o que espera ela? Que o grande céu líquido
se mova, constelações dispostas ao presságio,
ante suas retinas que inteiras se molham?
Que o doce hálito da miragem, desde
a fímbria do Ocidente, venha a sussurrar:
"Está vindo, está vindo...", é o que ela espera?
Cerrando os olhos, talvez possa ler
os sinais salgados na própria face:
haverá, no sopro oceânico, mensagem?
Esse perfil se esfumando ao longe
é o fruto do trabalho dos seus dias.
Tudo que ela sabe está aqui, condensado
no instante: interrogar os deuses, o Deus,
perder-se. Para que se cumpra o milagre.
Na sua tapeçaria de algas, uma linha prateada
se desmancha no ponto exato
onde o céu se liquefaz:
os nautas lhe chamam "horizonte".
Words by Lívia Soares
Photo by Patrick Jablonsky